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OS SUPERCRENTES

    No meio do povo de Deus encontramos aqueles irmãos que têm o costume de estar observando a vida dos outros e de fazerem julgamento dos seus irmãos em Cristo quando lhes achar convenientes. Ainda existem aqueles que não perdoam as falhas dos outros e quando tomam conhecimento delas propagam-nas com uma alegria mórbida como se não as tivesse também. Ainda existem aqueles que acham que não têm fraquezas e nem cometem nenhuma falha. Acham-se perfeitos, isento de falhas ou pecados - são os supercrentes.

    Quando eu era jovem, recém saído da fase da adolescência, estava subindo ao lugar de oração da 1ª Igreja Congregacional de João Pessoa e, naquele culto, Deus estava fazendo uma obra poderosa de quebrantamento, e os irmãos estavam confessando os seus pecados e chorando por eles diante de Deus. Repentinamente um irmão levantou-se e desceu indignado da reunião dizendo “que igreja imunda” e foi-se para casa e depois procurou uma Igreja mais “santa” para frequentar.     Outro irmão, esse um oficial de uma igreja do sertão nordestino, tinha o costume de chamar outra igreja de uma cidade vizinha a sua, de “prostituta do Sertão”, porque ela tinha uma atitude mais liberal na área de usos e costumes. Esse irmão também tinha o costume de “pegar no pé” dos pastores jovens, que trabalhavam na igreja onde ele era oficial. Achava-se um supercrente, melhor do que os outros, e ousadamente os censurava.

     Não existe, irmãos, essa figura maravilhosa do supercrente, do homem ou da mulher que esteja totalmente aperfeiçoado neste mundo, que não cometa nenhum deslize. Essa visão errada da perfeição humana tem estragado a vida de muitos servos de Deus, pois eles caem num pecado conhecido pelo nome de orgulho espiritual, pois se acham melhor e mais santos do que os outros.

    A Palavra de Deus nos revela que essa perfeição não existe aqui neste mundo, por mais consagrado que seja o cristão, por mais que se dedique a uma vida de oração e de envolvimento na obra do Senhor. Tiago, o irmão do Senhor, e autor da epístola que leva o seu nome, disse que todos nós tropeçamos em muitas coisas (Tg 3.2). O apóstolo João em sua primeira carta foi mais enfático ao observar a fragilidade do ser humano, mesmo sendo uma pessoa redimida pelo poder do sangue de Cristo, quando disse: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós” 1 Jo 1.8. “Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” 1 Jo 1.10.  Salomão, na sua oração de consagração do templo que construíra para Deus, disse que não há homem que não peque (2 Cr 6.36).

    Quando cremos de coração em Cristo como Salvador e O aceitamos como Senhor, uma vida com dimensão eterna da parte de Deus é infundida em nossas almas e nascemos de novo, somos regenerados, salvos da perdição eterna e nos tornamos filhos de Deus por adoção. Deus, no seu programa eterno, não determinou que a obra redentora de Cristo erradicasse por completo, no ato da conversão, a natureza pecaminosa do crente, que arrancasse o seu eu, e sim determinou lhe dá o poder de subjugá-los, através da instrumentalidade do Espírito Santo, usando as Sagradas Escrituras, numa obra que chamamos de santificação experimental.

     Assim sendo, irmãos, não deixemos esse mal, o de santarrão, entrar em nossos corações a ponto de pensar que somos supercrentes, de desprezarmos os outros que têm suas fraquezas espirituais, e sim procuremos ajudá-los na caminhada da vida cristã. Lembremo-nos de nossas fragilidades e sejamos em tudo dependentes de Deus, pois só Ele é que nos mantém de pé.                    

Rev. Eudes Lopes Cavalcanti

Pastor Titular da III IEC/JPA