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Porque os Congregacionais brasileiros não batizam crianças

          No meio evangélico existe uma divergência no que se refere ao batismo cerimonial, sem ser aquela envolvendo a aspersão e a imersão, que é a relacionada ao batismo de crianças  e o batismo de quem tem capacidade para crer na mensagem do evangelho. As igrejas ditas reformadas (presbiterianas, congregacionais americanas e européias, luteranas e anglicanas) têm  como praxe o batismo de crianças independentes dela exercerem a fé em Cristo. Argumentam esses amados que Deus fez uma aliança com a família do crente e, por conseguinte, o batismo deve contemplar os filhos pequenos, responsabilizando-se os pais pelo acontecido. Mais tarde as crianças batizadas podem fazer profissão de fé, e aí sim confessam que crêem em Cristo.

         As igrejas reformadas alardeiam muito a questão da Sola Scriptura, ou seja, as Escrituras é a única regra de fé e prática do cristão, mas se equivocam quando levantam o argumento para batizar crianças sem levar em consideração o testemunho completo das Sagradas Escrituras, principalmente o mandamento da grande comissão e a prática da igreja primitiva. Tenho para mim que os teólogos de Westminster quando elaboraram os documentos da fé reformada (Breve Catecismo, Catecismo Maior e Confissão de Fé), já entraram no assunto batismo de crianças como um dogma, baseado principalmente em pressupostos de que fosse uma verdade inquestionável. Eles que questionaram todos os dogmas conhecidos na igreja e os reconstruíram baseados nas Sagradas Escrituras falharam, na nossa avaliação, quando trataram, ou não trataram, do batismo de crianças como trataram os outros temas teológicos.

         Buscar no Antigo Testamento uma doutrina sem a confirmação do Novo Testamento não é a maneira correta de se interpretar a Bíblia Sagrada. Fazer uma analogia do batismo com a circuncisão judaica parece-me também que não é um argumento sólido, plausível, inquestionável, principalmente se tentarmos conciliá-lo com o mandamento do Senhor Jesus na grande comissão e com a prática do Novo Testamento.

       Sabemos através de uma hermenêutica sadia que um assunto para se tornar uma praxe  na vida da igreja tem que ter o respaldo claro do Novo Testamento. Todos precisam saber que a revelação especial, através das Escrituras, foi dada de uma forma progressiva, ou seja, os temas teológicos identificados no Antigo Testamento do interesse de Deus que deveriam ser normativos para a vida da igreja seriam corroborados pelo Novo Testamento, isso através de uma escritura direta ou na ausência dela através da prática da igreja neotestamentária, considerando que a mesma estava sob a supervisão direta dos apóstolos do Senhor.

        Considerando o exposto acima, elencamos a seguir as razões porque nós congregacionais brasileiros não batizamos crianças, baseados no mandamento da grande comissão e na prática da igreja primitiva:

1)       Na grande comissão o Senhor Jesus mandou que a igreja, representada naquela ocasião pelos seus apóstolos, batizasse os que cressem na mensagem do evangelho. “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”. Mc 16.15,16 (grifo nosso). (Veja ainda Mt 28.18-20);

2)       Quando Pedro abriu o reino dos Céus com a pregação do Evangelho, inaugurando a igreja na sua expressão local, foram batizados três mil pessoas após serem tocadas pelo Espírito Santo, ou melhor, após expressarem arrependimento e fé (conversão). “Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos

demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. Os que de bom grado receberam a sua palavra foram batizados, e naquele dia agregaram-se quase três mil almas. At 2.37-41 (grifo nosso);

3)       Os batismos em Samaria, por ocasião da pregação de Filipe, aconteceram após a crença manifestada por aquelas pessoas. “Mas, como cressem em Filipeque lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, batizavam-se, tanto homens como mulheres” (grifo nosso) At 8.12;

4)       O batismo do eunuco, etíope, no caminho de Jerusalém para Gaza, aconteceu após a sua pública profissão de fé. Felipe só o admitiu ao batismo depois dele abrir a sua boca e confessar a sua fé em Jesus. “Indo eles caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e o eunuco perguntou: Vê, aqui há água. O que impede que eu seja batizado? Respondeu Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. Disse ele: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou” At 8.36-38. (grifo nosso);

5)       O batismo de Paulo também se processou quando ele estava consciente do que estava fazendo no que se refere a sua fé em Cristo. “Imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista. Levantando-se, foi batizado” At 9.16 (grifo nosso);

6)       O batismo de Cornélio, familiares e amigos íntimos, também foi processado após receberem o Espírito Santo pela fé. “Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do Senhor. Então lhe rogaram que ficasse com eles por alguns dias” At 10.47,48. (grifo nosso).

7)       O batismo de Lídia, vendedora de Tiatira, também foi processado quando o Senhor abriu o seu coração e ela creu na mensagem pregada por Paulo. “Certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. Depois que foi batizada, ela e a sua casa, rogou-nos, dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali. E nos constrangeu a isso” At 16.14,15. (grifo nosso).

8)       O batismo do carcereiro de Filipos deu-se também após ele manifestar a sua fé em Jesus depois da resposta dada por Paulo e Silas a ele quando perguntou o que deveria fazer para ser salvo. “Então tirou-os para fora, dizendo: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? Responderam eles: Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa. Então lhe pregaram a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa. Tomando-os o carcereiro consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; então logo foi batizado, ele e todos os seus” At 16.30-33. (grifo nosso);

9)       O batismo de Crispo, principal da sinagoga judaica em Corinto e de sua família, e também de alguns coríntios deu-se após a crença em Cristo. “E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados” At 18.8. (grifo nosso).   

10)   O batismo de alguns irmãos no início do trabalho em Éfeso deu-se também depois da pública profissão de fé por parte deles. “Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus” At 19.4,5. (grifo nosso).

       Todos os batismos mencionados acima se processaram após a manifestação de um ato consciente de fé, conforme determinado pelo Senhor na grande comissão, registrada por Mateus. “Portanto, ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” Mt 28.19. (grifo nosso). Observem a ordem para ser seguida pela igreja na grande comissão: Primeiro fazer discípulos e depois batizá-los.

         A Bíblia fala de famílias inteiras que foram batizadas (a de Cornélio, a de Lídia, a do carcereiro de Filipos, a de Crispo, citadas em Atos e a de Stéfanas em 1 Coríntios), mas isso não é um argumento determinante nem conclusivo para identificarmos uma doutrina porque pode ser que naquelas famílias não tivessem crianças envolvidas. Seria uma mera suposição achar que naquelas famílias tivessem crianças na fase do não conhecimento do bem e do mal, e em cima de suposições não se reafirma uma doutrina bíblica.

 

JPA, maio de 2011

Pr. Eudes Lopes Cavalcanti

Ministro da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil

Pastor Titular da III IEC/JPA